segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Avesso

Tudo ao avesso

O incorruptível agora também tem preço

A certeza se perdeu

Incerta de que caminho deveria seguir

A lágrima rola

Com o desejo intenso de fazer sorrir

Os papéis se inverteram

Como um livro lido através do espelho

O que antes era essência

Já não é tão importante

E quem ousa ter decência

Em meio à orgia gritante?

O imutável mudou

Agora, tudo ao contrário

Frente e verso o que sou:

Erro constante ou acerto diário?

O que cuidava agora é cuidado...

Cuidado pra não quebrar!

Doei-me tanto e me foi negado

O direito que eu tinha de não me calar

Três versões de uma estória



Três estórias

Mil caminhos

E um mesmo caminhar

Tão incerto é o teu destino

Porque insistes

Em planejar?

Chora somente tua dor

Que é hoje única certeza

Lamenta a ausência do amor

E a insistência da tristeza

Porém não sejas egoísta

Socialize a solidão

Que dói menos

Tendo em vista

A angústia do irmão

E ao seguirmos por essa trilha

Fazendo um percurso que não é o diário

Encontramos na solidão conjunta

A solidão de um caminhante solitário

Fiel amigo que outrora tememos

Que traz em sua cor o tom de sua vida

Que leva nos olhos a dor que já temos

Que cicatriza com a língua a velha ferida

Um a mais a engolir o presente amargo

A chorar pelo passado escuro

A carregar a esperança junto ao fardo

E a salivar com ânsia pelo futuro

Aprende com este a virtude de ser fecundo

Mesmo que seja na aridez do teu sofrer

Pois sob o sol cálido do insensível mundo

É que ocorre o mais lindo florescer

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Mobília


Encaixotar os velhos sonhos
E preparar-se para a mudança...
Mas o frete do tempo é caro
E o sorriso é, deveras, raro
Porque pesa levar a esperança...

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Figurino

Vestir meu sentimento de palavras
Porque ninguém suportaria
A nudez de minha dor

ReMEDIAR



... E o tempo

Que era o melhor remédio

Passou do prazo de validade...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Insônia

De tão tarde
É quase cedo
E a humanidade dorme
O sono que perdi
Mas eu sonho acordada
E não é com a tal esperança
Calculo apenas uma solução:
Como sair desse pesadelo
E outro sentir honírico experimentar?
Pois que a realidade é um sonho ruim
E o medo de dormir é pra mim
O temor de não mais acordar.

Ferrovida

É ferro...
É fogo...
E arde com desespero
O aproximar do fim da linha
Nas febres em devaneio
Em cada lágrima a pergunta
A maltatar a carne ferida:
-"Se não te agradas o destino,
Então porque, com desatino,
Tomaste o trem chamado vida?"

ReciprocIDADE

Ergues o muro da inconsciência
Pra incitar-me ao desconhecido
Lança correntes em minha alma
E propostas ao meu ouvido
Mas como duvidar de ti
Se compartilho contigo
Da mesma confusa certeza?
E como esperar que acredite
Se nem mesmo sei se é verdade
Que a verdade existe?
Só sei que perdi de vista o limite
Amando-te mais do que o tempo permite
Querendo com o corpo
Negando com a mente
Querendo ir além
Do que o medo consente

Lembrete de Geladeira


Quando for tranque a porta...
Não quero correr o risco
De sofrer de novo.

Ass: Coração

Proporções


A dor que sinto
Só não é maior
Que o medo
De sentí-la novamente
Por isso:
Volta não!!!

EspectaD O R


Expressar o medo com bravura
Eis a correta decisão
A sanidade não passa de loucura...
O que é normal então?
Festejemos, pois, o nascer da morte
E choremos a vida que se inicia
Na cicatriz do mundo um novo corte
No mercado outra erva que vicia
Vem preencher o vazio que preenche
A mente dos que pensam ser pensantes
A fraqueza mesmo fraca é quem vence
Erro inédito já cometido antes
Mais um, um a menos
Injusta matemática da vida
Os braços do acaso é o que temos
Um cigarro regado com bebida
E sabemos, somos parte disso tudo
Seja por culpa, seja por omissão
E o “fingir não saber” é o escudo
Que protege o nosso ser-contradição

Sobre a tua dor


“A tua dor
É o espelho
Em que vejo refletida
A minha poética infelicidade.”

Pulsos Umbilicais


“Se considerarmos essa vida

Uma gestação para uma próxima:

O suicídio é um aborto”.

A definir


Não
Sim
Talvez
Por que não?
Se sou barco de papel
A navegar na indecisão
Sei que devo correr:
Mas pra fugir ou enfrentar?
Estou certa do sofrer
Mas até quando vai durar?

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Choque Témico


“Lágrimas quentes
Quebram a fria solidão
Durante todo o expediente da lua.”

Alinhavar


Uma velha costureira
A alinhavar retalhos de sentimentos
A picar o dedo no fuso da vida
E a tecer a colcha formidável da poesia...

Saboletrar


Ao caldeirão das letras
Uma sopa de letrinhas
Um universo dicionário
De plurissignificação
Um cardápio literário
Um extenso inventário
De um vernáculo coração

Literatura Infantil


Fim do encanto
Antes pra ti
Que pra mim
A tinta barata
Que rabisca a vida
Desbotou antes do fim.
E na leitura de estórias alheias
Esqueço de escrever também a minha
Uso a tinta que corre nas veias
Colorindo de dor todas as linhas
Mas chega um ponto em que tudo perde a graça
E o palhaço sem querer borra a maquiagem
E o grande ator que melhor disfarça
Chora ao espelho ante a imagem
Não tem sentido nenhum escrever
Reproduzir em cena figuras reais
Repetir na arte o mesmo sofrer
Em notas gritar os mesmos “ais”
Resta então falar da alegria
Mas como descrever uma desconhecida?
Decido por fim continuar...
E em minha literatura tão infantil falar de vida.

Spray


Nos muros de minha dor
Vejo pichada a tua ausência
Que me enfraquece
Que me entorpece
E me embriaga
Com a preguiça de viver

Caneta

Quanta magia há nela
E em seu deslizar
Há quem pense que o mérito é meu
E eu assim os deixo acreditar
Afinal, quem tem glórias
Que não sejam as alheias?
E é em função dessa honra breve
Que meu fingir se atreve
E até hoje minto
É ela quem escreve...
Eu apenas sinto.

Correspondido


O que fazer agora
Se me roubastes a poesia?
E como chorar palavras
Se me impusestes a alegria?
Como poetar minhas lágrimas
Sem tristezas a escrever?
Como lamentos compor
Se descobri que o amor
Não precisa doer?

Senhora

A cheia de Graça
Que em tudo acha graça
Que graça tem?
Se é mãe somente
Da dor que sente
Em amar alguém
Pariu a esperança
Mas esta não vingou
Prematura criança
Que ninguém amamentou
Deu a luz ao sofrimento
Ainda é virgem de alegria
É rainha
Senhora na dor
E no amor:
Simples Maria

Auto-retrato


Tortura
Moldura
Dor enquadrada
Vizinha loucura
Por mim desenhada
Cinza aquarela
Negro colorir
Lágrimas solventes
Dor ao sorrir

Shamynsk


Estrela da manhã
Que a tantos serve de guia
Talvez prima de Maruã**
Necessária luz do dia
Aquela que traz a luz
Que ironia...
Caminha na escuridão

Verter


Debrucei-me triste
Sobre a certeza do sofrer
Chorei o pranto rubro
Prova do amor unilateral
Derramei-me em teu lençol...
Entrega líquida
De sangue
Suor...
E lágrima

Cicatriz


Feridas rasgar
Porque o que mais dói
Não é o que destrói
Mas o que faz sarar...
Dilacerante anestésico,
És tu quem me corrói
E o que mais condói
É olhar a cicatriz
E como atriz que sou
Não chorar por um triz
Pois o medo de sarar
É o que me faz sangrar
E, estranhamente,
É o que me faz feliz.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A Bolsa Amarela


Tanta coisa a fazer...
E a poesia não se aquieta
Minha vontade de escrever
Só é menor que a de crescer...
E a de cumprir minha dieta...
Ah, se eu tivesse uma bolsa amarela
Ou se eu me chamasse Raquel
Pra esconder minhas vontades
Pra odiar a minha idade
Pra esquecer Maquiavel...
Nem precisava de quintal
Bastava-me a bolsa amarela...
E uma caneta guardada nela
Para escrever para mim mesma
E com isso ter a certeza
De que alguém me compreendeu.

Escrever


Tinta ao papel
Papel ao lixo
Será que o poeta morreu ou acabou sua inspiração?
Será que perdeu o dom concedido pelos deuses
Ou apenas desaprendeu a desenhar seus sentimentos?
Em resposta, tal qual uma fênix, ressurge a poesia
Para deleite do poeta que agora ri da ironia...
Eis que escreve sobre sua incapacidade de escrever